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Postado em 16/05/2013 - 4:13
Subjetividade Permeável
João Paulo Quintella

Últimos dias para visitar a exposição Fortuna, de William Kentridge, no Instituto Iberê Camargo, em Porto Alegre

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A sensação de alumbramento diante dos desenhos e vídeos de William Kentridge deriva, sobretudo, do uso do processo como experiência estética de representação subjetiva. O método de superposição de desenhos em uma mesma folha criado pelo artista opera no limite da noção de processo como resultado final. Não vemos o produto da equação, vemos a equação em si, se desenvolvendo e se perdendo em meio ao processo. Os traços que se superpõem no papel coabitam um mesmo plano, incorporando o processo ao próprio desenho. Quando os desenhos se transformam em animação, a ideia de coexistência se amplifica através da contaminação por outra linguagem, o filme. Kentridge é um aglutinador. A fusão entre meios é uma ferramenta produtiva. O filme, o vídeo, o desenho e a performance se atravessam gerando uma obra que não rejeita a contaminação.

A curadoria de Lilian Tone respeita essa característica do trabalho do artista. Lilian optou por evitar divisões e setorizações das obras, criando, através do uso arejado do espaço, uma visitação fluida e imersiva. A abundância de trabalhos reproduz os excessos do estúdio e reforça a noção de permanente mutação inerente ao trabalho do artista. Existe, na obra de Kentridge, uma recusa do previsível.

Fortuna, título da exposição, aponta para uma engenharia do acaso. Os temas que aparecem em suas animações não são preconcebidos ou hierarquizados. Se a questão política tem, sim, uma forte repercussão na sua produção artística, a solidão, a pose de um gato ou o peso de uma rocha não lhe são menos pertinentes. Trabalhos como Weighing and Waiting (1998), History of the Main Complaint (1996) e Sobriety, Obesity and Growing Old (1991), todos da série Desenhos para Projeção, nos revelam como a subjetividade é permeável.

O pensamento na obra de Kentridge é intimamente atrelado ao campo físico, são as estruturas corpóreas que conduzem sua produção intelectual e artística. A presença frequente de Kentridge como personagem de suas animações, como figura de seus desenhos ou como corpo performático de seus vídeos expressa a consciência de arte como integração entre o físico e o mental, entre o processo e o resultado.

Em exposição no IMS-RJ em fevereiro deste ano, William Kentridge: Fortuna chegou aos 27 mil visitantes uma semana antes do seu encerramento, número recorde na história do instituto.

Serviço:

William Kentridge: Fortuna.
Até 26 de maio
Fundação Iberê Camargo – Porto Alegre