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Coletivo Mash-Up (Foto: Divulgação)
Postado em 16/12/2021 - 11:21
#tbt 43, 44, 45
Do comum à pedagogia em trânsito, desembocando em uma revisão crítica do Latinx, edições de 2019 ampliam debate sobre um continente convulsionado

A seLecT #43 [junho/julho/agosto de 2019] estampa o retrato de um coletivo que se tornou o primeiro grupo de artistas a assinar a curadoria de uma Documenta de Kassel. O comum é a vida compartilhada são o tema da edição.

Benjamin Seroussi entrevista Farid Rakun, um dos integrantes do Ruangrupa, o coletivo indonésio que assina a direção artística da documenta 15, prevista para acontecer entre junho a setembro de 2022. Rakun discorre sobre o fato de jamais um artista indonésio ter participado da Documenta de Kassel e afirma que o grupo está interessado em fazer um mapeamento geográfico da história da mostra alemã. Em outubro de 2021, quando foi divulgada a lista de participantes, o Ruangrupa identificou a geolocalização de cada artista ou coletivo (e predominam os coletivos na lista) pelo fuso horário em que cada um opera. Na entrevista, Rakun antecipa o conceito norteador da exposição de 2022: “lumbung”, termo que se traduz como “celeiro de arroz” e se refere a uma construção comunitária na Indonésia rural, onde a colheita de uma comunidade é recolhida, armazenada e distribuída de acordo com critérios determinados em conjunto como um recurso comum para o futuro.

Em reportagem sobre a participação de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca na 58a Bienal de Veneza (2019), no pavilhão brasileiro, seLecT entrevista os grupos de música e dança retratados nos filmes da dupla sobre o fazer coletivo. O coletivo OPAVIVARÁ e a Plataforma Explode! também ganham matérias na edição #43. Juntos, os discursos dessas quatro “comunidades” (Ruangrupa, coletivos retratadas por Wagner e Burca, OPAVIVARÁ e Explode!) deixam claro que fazer e pensar junto em contextos socioeconômicos periféricos implica em somar ao assunto da coletividade temas como diáspora, desigualdade social, políticas identitárias, entre outros que compartilham uma base de lutas por direitos de minorias historicamente oprimidas.

Na edição de aniversário de 8 anos, seLecT #44 dedica-se à prática do artista como experiência de deslocamento, apresentando as diversas residências artísticas e seus “nomes próprios”, como define Guilherme Gurman, na Coluna Móvel. Em resposta às frágeis, ou inexistentes, políticas governamentais de incentivo à atividade artística no Brasil, o Mundo Codificado mapeia residências artísticas internacionais que acontecem graças ao apoio direto de governos. Na lista, temos apenas um programa brasileiro.

A capa da #45 retrata um centro de pesquisa artística e científica na Floresta Amazônica: o LABVERDE, que incentiva projetos de coexistência entre arte e natureza. Na seção Territórios, Luana Fortes e Paula Alzugaray ampliam a lista ao mapear os espaços culturais, de pesquisa e experimentação de diferentes regiões do Brasil, que podem se caracterizar como “lugares de experiências festivas ou reflexão solitária”.

O Fogo Cruzado provoca: “Por que você pagaria por uma residência artística?”. Diferentes artistas tecem suas opiniões a partir de experiências pessoais, já Cildo Meireles, na seção Entrevista, confessa que nunca participou de um programa de residência artística. “Sou um sem-teto em matéria de residências. Isso, de uma maneira ou de outra, me desgasta à beça”.

Na seLecT #45 [dezembro de 2019/janeiro/fevereiro de 2020], são investigados os vínculos, laços e interseções entre as identidades latino-americanas em convulsão. Ao construir uma edição sobre o que nos aproxima, não negamos o que nos diferencia, mas o que nos afasta enquanto humanidade: o racismo, a misoginia, a transfobia, os processos excludentes.

Assim como as teorias pós-feministas invalidaram o feminismo no singular – estabelecido em bases cis-brancas-europeias –, seLecT se propõe a pensar as Américas Latinas no plural. E que venham escritas em português, em espanhol ou no idioma do povo Kuna: Abya Yala (Terra Madura, Terra em Florescimento ou América).

Como afirma o artista Fernando Lindote, na seção Fogo Cruzado, optar por apenas uma das etnias que se cruzam em nossas existências latinas seria prematuro e superficial. Afinal, sabemos que a homogeneidade da América Latina é uma invenção do Ocidente, como defende Cristiana Tejo ao apresentar sua pesquisa sobre pedagogias radicais de artistas mulheres latino-americanas. Portanto, expandido o entendimento do que Abya Yala significa, a América Latina passaria a incluir também os Estados Unidos, país onde anglo-americanos e latino-americanos convivem e criam fricções nos debates em torno de raça e cultura, conforme Rodrigo Moura aborda no texto El Museo Goes Latinx.

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