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Postado em 12/01/2013 - 6:22
Televisão (1925-2005)
Giselle Beiguelman

De rainha das mídias a acessório das redes sociais, a saga da telinha

Philips-family

Legenda: Anúncio francês dos anos 1960 (da Philips Television)

Vedete da sala de estar dos anos 1950 até a primeira década dos 2000, a televisão foi desde sempre cosmopolita. Com nome de raízes greco-latinas (tele, do grego distante, e visão, do latim visione), é uma filha torta do norte-americano fotofone de Alexander Graham Bell e do teatrofone do francês Clément Arder, e parente consanguínea do rádio.

A transmissão de imagens e sons em movimento só seria feita em 1927. No início, as tevês eram mecânicas e resumiam-se, basicamente, a um rádio com um tubo de néon que transmitia imagens do tamanho de um selo. Foi só em 1935 que a televisão tornou-se algo mais próximo do que conhecemos hoje, tendo como marco a transmissão das Olimpíadas de Berlim, na Alemanha nazista, em 1936. Mas foi depois da Segunda Guerra Mundial que ela se tornou a rainha das mídias. Estima-se que, até o fim dos anos 1950, 1 bilhão de aparelhos tenham sido vendidos no mundo todo.

Foi peça fundamental do mobiliário durante décadas e é impossível dissociar a história do século 20 da sua presença. Foi com ela que os astronautas pousaram na Lua e nos lares de todo o planeta, em 1969, e que vimos o Brasil tricampeão do mundo, um ano depois. Pelas ondas do broadcast, conhecemos o Agente 86, Batman e seu inseparável menino prodígio Robin, amamos Lucy. Ainda em branco e preto, namoramos Francisco Cuoco, Regina Duarte, idolatramos Silvio Santos, Janete Claire e até Cid Moreira e Sergio Chapelin. Desejamos Beto Rockefeller e vaiamos e aplaudimos dos marcantes festivais da Record às tardes de Jovem Guarda, com Sua Majestade Roberto Carlos. Pela janela da telinha soubemos da queda do Muro de Berlim, da Guerra Irã-Iraque e vimos as fortes imagens do ataque às torres do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001. Muitas horas no sofá da Hebe se passaram até que fossem anunciados os primeiros sinais de envelhecimento.

Uma ideia singela de dois jovens que trabalham na PayPal, nos EUA, o YouTube, lançado em 2005, foi a responsável pelas primeiras dores de cabeça. O bordão “broadcast yourself ” virou rapidamente o slogan de toda uma geração e, como uma doença degenerativa, foi lhe comendo a glória, o charme, o fascínio e sua joia mais cara: a audiência. Amparada nas muletas do Twitter e de sagazes blogueiros, ensaia uma reviravolta como peça de um emergente tabuleiro transmidiático. Tal qual a conhecemos em sua soberania, morreu sem deixar saudade de sua implacável tirania.

*Publicado originalmente na edição impressa #9.

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