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Postado em 06/07/2012 - 1:59
Tormenta eletrônica
Juliana Monachesi

Debruçado sobre o abismo, luiz duVa encara tempestades de frente, expostas atualmente em individual na galeria Pilar

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Legenda: Detalhe da instalação Tormenta Azul Brilhante, de luiz duVa

O artista luiz duVa foi premiado em 2008 no programa Artist Links England and Brazil – do British Council do Brasil e do Arts Council England. O prêmio era uma residência artística na Inglaterra, na cidade litorânea onde fica o Plymouth Arts Centre. Lá, o artista se deparou com um clima dado a tempestades que o levou a decidir centrar a pesquisa no local exatamente nas tormentas típicas da região. 

Em 2010, outra premiação, desta vez no programa Rumos Itaú Cultural Cinema e Vídeo, permitiu que ele editasse e finalizasse os filmes realizados na residência. Apesar de já ter apresentado partes deste trabalho em performances de live-images e em formato de instalação, em 2010, na mostra Tékne – Dos Multimeios à Arte Digital (no Museu de Arte Brasileira da Faap), o conjunto completo que resultou desta instigante pesquisa é exibido pela primeira vez atualmente na galeria Pilar, no bairro paulistano de Santa Cecília.

Foram cinco expedições aos cliffs, situados entre o oceano Atlântico e o canal da Mancha, em busca de tempestades. Ali, duVa se colocava literalmente à beira do abismo, aguardando a chuva e as fortes ventanias. “Eu ficava esperando a tempestade chegar, vendo aquela bruma se adensar, e me dei conta de que estava diante do desconhecido, exatamente como os peregrinos que passaram por aquela região em 1620”, conta o artista, que sabia a localização exata da tormenta por meio das previsões do tempo. 

Na instalação Tormenta Azul Brilhante, apresentada na primeira sala da galeria, luiz duVa conta que procurou recuperar e transmitir ao visitante o sentimento de tensão que vivenciou em Plymouth. A edição das imagens, somada à espacialização do som e ao posicionamento estratégico dos equipamentos de projeção e áudio na sala, faz com que o espectador vivencie de fato uma experiência física e sinestésica da obra.

“Para o encontro com a tormenta, o artista posicionava as câmeras em modo invertido, para conferir mais resistência ao equipamento e também para acentuar a linha de varredura do vídeo”, explica Christine Mello, curadora da exposição na galeria Pilar, que fica em cartaz até 18 de agosto. “Mas ocorre de, mesmo com uma tempestade prevista pela meteorologia, duVa se deparar com um belo dia ensolarado no penhasco até onde se deslocou, situação em que ele aponta a câmera para o sol para provocar outro tipo de distorção da imagem, para desmantelar a imagem”, analisa a curadora. 

De volta ao Brasil, luiz duVa selecionou as sequências de maior intensidade capturadas durante as tormentas, assim como os momentos de imagens mais desmanchadas pela luminosidade. Ele trabalha as sequências em um software que cria distorções, de modo a se aproximar o máximo possível do efeito vivido. “O trabalho é a tempestade interior”, afirma duVa. Ao procedimento conceitual desta obra, o artista dá o nome de “tormenta eletrônica”, prossegue Christine Mello, que encontra paralelo entre esta pesquisa e aquela empreendida pelo pintor romântico William Turner (1775-1851) em sua fase madura.

Serviço

Tormentas, exposição de luiz duVa
QUANDO: terça a sexta, das 11h às 19h; sábado, das 11h às 17h; até 18 de agosto
ONDE: Galeria Pilar (rua Barão de Tatuí, 389, tel. 0/xx/11/3661-7119) – www.galeriapilar.com