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Postado em 26/08/2011 - 2:58
Torto e direito: entrevista com Anna Dietzsch
Entrevista com a arquiteta Anna Dietzsch , diretora do escritório DBB Aedas
Marlia Scalzo

Formas orgânicas dominam os projetos de design e arquitetura. Sinal de tempos que mudam e da tecnologia que avança. Quatro arquiteos – Marcio Kogan, Eduardo Longo, Anna Dietzsch e Guillaume Sibaud – Revelam o que pensam das linhas tortas e retas.

Anna Dietzsch atua no Brasil e nos Estados Unidos. Entre os projetos que capitaneou na empresa está a Praça Victor Civita, em São Paulo. Formada pela Universidade de Harvard, hoje ela dá aulas no City College of New York, no New Jersey Institute of Technology e na Escola da Cidade, em São Paulo.

O homem está dando mais valor ao seu lado torto ou o homem entortou? Por que você acha que isso está acontecendo?

A admiração pela beleza de formas naturais e orgânicas não é nova, ela sempre acompanhou a disciplina da arquitetura e do design. Leonardo da Vinci, Gaudí e Frei Otto se inspiraram no orgânico para construir grandes obras. Alvar Aalto, o mestre modernista, chegou a evoluir os processos de industrialização de laminação e prensagem de madeira para reproduzir a sensualidade das curvas naturais em seus objetos e edifícios. A novidade é mesmo a facilidade tecnológica, que possibilitou o acesso a softwares e processos produtivos para quem queira utilizá-los. Com a implantação do scanner 3D, o software CATIA (sigla para Computer Aided Three-dimensional Interactive Application) em seu escritório, Frank Gehry passou a poder escanear um papel amas-sado e fazer dele um objeto passível de ser construído. Esse processo é muito libertador e abre um mundo de possibilidades formais deliciosas para quem projeta. O risco é fazer disso um fim em si mesmo. Prédios não são esculturas, apesar de serem objetos formais e terem um forte cunho simbólico. Prédios são lugares, carregados de funções, significados e memórias. A qualidade da experiência desses lugares vai além do espetáculo e é preciso ter cuidado para não cair na armadilha de projetar imagens em vez de espaços e lugares.

Em que lugar desse processo você se enquadra? Como você se move entre o torto e o reto?

A expressão orgânica está presente em muitos dos projetos que desenhamos no escritório, embora seja muitas vezes apenas uma das forças motivadoras do desenho, juntamente com outros fatores, como o programa e o contexto. Nosso Museu do Memorial do World Trade
Center (o National September 11 Museum), por exemplo, gira em torno de uma grande rampa que funciona como circulação, espaço de exposição e suporte para a própria exposição. É um objeto 3D que flutua no espaço subterrâneo das antigas torres, onde os planos horizontais se transformam em planos verticais sem transições bruscas ou ângulos retos. Outros exemplos, aqui no Brasil, são nossa fábrica para a Valeo, em São Paulo, com formas sinuosas, e um parque que estamos projetando na Vila Madalena. Ele percorre o traçado de um córrego, hoje canalizado, e tem como tema a água, os rios urbanos. Nesse projeto, estamos moldando e esculpindo o
próprio terreno, a própria paisagem, com formas fluidas que remetem ao tema da água, definindo também espaços urbanos agradáveis e marcados pelo design.

Você sente que tem de se adaptar a um novo modo de pensar nesse mundo em que todos reaprendem as maneiras de guardar coisas,seja no computador ou em casa?

Sinto muito a mudança no modo como hoje a informação permeia todos os ângulos e momentos da minha vida. Somos, o tempo todo, solicitados a participar de experiências e conversas alheias ao nosso momento e contexto. O bombardeio de e-mails e de informações sobre assuntos não relevantes, via internet e TV, nos tiram do foco do que é importante para nós mesmos, gerando ansiedade e desgaste.

Quem move quem nessa superação de modos de viver e pensar? É o artista que sonha, a indústria que evolui ou o público que reivindica?

O artista sempre sonha, a indústria sempre alavanca e aproveita o sonho como maneira de se superar, e o público reivindica aquilo que entende que é bom e pode aproveitar. A grande revolução, creio, é que hoje o artista, a indústria e o público não podem mais ser separados em gavetas distintas. Podemos todos ser os três ao mesmo tempo, fazendo filmes com nossos iPhones, propondo novas maneiras de comunicação e consumindo informações no mundo expandido em que vivemos.

Que projetos você julga marcantes dessa fase que vivemos?

Para mim, os projetos significativos hoje, mais do que obras isoladas, são nossas cidades. Elas são a expressão e o suporte do novo mundo virtual, nossa capacidade de interação, produção e relação. As grandes cidades são caldeirões de fertilidade intelectual e facilitam, ou não, a evolução das nossas capacidades criativas. Assim, tenho admiração pelas cidades que respeitam e incentivam a troca, por meio do cuidado com seus espaços públicos, sua dedicação política às artes e à boa qualidade de vida das pessoas que ali vivem.

Introdução

Entrevistas: 

Marico Kogan

Eduardo Longo

Guillaume Sibaud