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Postado em 12/06/2013 - 1:31
Três do Rio
Marcos Diego Nogueira

Novo livro de Sérgio Sant’Anna marca um golaço ao contar a história de um Adriano da década de 50

“A esfera é a mais perfeita das formas?”, questiona Sérgio Sant’Anna em determinado momento de Páginas sem Glória, novela que encerra e dá nome ao seu livro recém-lançado pela Companhia das Letras. Antes de falar e questionar sobre futebol, porém, Sant’Anna aquece o leitor com dois breves e descontraídos contos sobre outros assuntos, mas que expõem o lado mais ingênuo dos personagens.

 O primeiro, Entre as Linhas, brinca com a profissão do escritor e as diferentes formas de narrativa. O personagem principal é Fernando, um escritor que pede à amiga que leia sua pequena novela, e o que chega a nós, leitores, são as anotações críticas da moça. Formando um perspicaz conto nascido de outro conto, Sant’Anna nos faz não só imaginar qual seria o enredo verdadeiro, mas também pescar fragmentos de histórias paralelas, tornando a leitura muito envolvente e mostrando a essência do relacionamento entre Fernando e sua revisora.

Já em O Milagre de Jesus, o humor vem em forma de crítica às crenças atuais. O mendigo Jesus Curioso, em meio às suas andanças, decide entrar em uma igreja e, por conta das roupas velhas e da barba por fazer, é confundido por uma fiel com o próprio Messias. Sua humildade em negar a identidade atrai ainda mais fieis, que, por ironia, dão a ele o poder de decidir questões importantes de suas vidas, geralmente relacionadas aos tabus do Vaticano, como um aborto em decorrência de estupro. A ironia fica por conta do próprio mendigo, que, após ser enxotado da paróquia, assume uma postura “do bem”, característica de seu homônimo mais famoso.

Mas a história que realmente vale a leitura é a final e que, não à toa, dá nome ao livro. Sérgio Sant’Anna dá o pontapé inicial nos assuntos da bola ao contar a história de José Augusto do Prado Almeida Fonseca, o Zé Augusto, ou Conde. Carregada de humor e com ritmo de uma partida de alto nível, é um clássico imediato da literatura boleira, baseado nos tantos jogadores que marcaram sua passagem futebolística pelos acontecimentos extracampo. Zé Augusto é um boa-vida descoberto pelo olheiro do Fluminense, Luiz Andrade, em uma pelada na praia. Malandro por natureza, ele é, acima de tudo, um bon vivant, anti-herói do esporte bretão, chegado a escapadas noturnas, festas e mulheres. Por conta de seu comportamento, vai do Fluminense ao Bonsucesso, onde repete sua performance digna de um Adriano dos anos 1950. Um poeta da bola que cativa pela malandragem, mas acaba no ostracismo. Como diz o autor: “Garrincha morreu mal, mas entrou na história. Já o Zé Augusto não se sabe nem se morreu”

Paginas_sem_gloria_1346529065p 

Páginas sem Glória – Companhia das Letras

Sérgio Sant’Anna

178pp. R$ 29,00