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Postado em 14/11/2013 - 7:33
Um museu de grandes novidades
Guilherme Kujawski

Artista cubana propõe novo movimento estético com ênfase na utilidade social da produção artística

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Legenda: Arte Útil (2010), escultura de Tania Bruguera (foto: cortesia do Studio Bruguera e Queens Museum)

O Museu de Arte Útil (grafado em espanhol mesmo) é uma colaboração entre a artista cubana Tania Bruguera, o Van Abbemuseum, de Eindhoven, e o Queens Museum, de Nova York (esse último foi reformado recentemente, tornando-se, literalmente, um dos museus mais transparentes do mundo, devido à instalação de grandes chapas de vidro nas laterais, favorecendo a interação com a comunidade local). O museu holandês, não custa lembrar, é dirigido por Charles Esche, responsável pela curadoria para 31ª Bienal de São Paulo (leia a entrevista com ele dada à revista seLecT).

A mente mestra do afortunado projeto é, portanto, Tania Bruguera, que explica o conceito de arte útil não apenas como a reprogramação de objetos (estéticos ou não), mas a recuperação da arte como elemento transformador da sociedade. A artista toma como inspiração o manifesto lançado pelo artista argentino Eduardo Costa, pertencente ao grupo de artistas que gravitavam em torno do Instituto Di Tella. Era dele projetos de crítica do mundo fashion e, ainda na década de 1960, incursões pelo mundo da artemídia, com o uso de máquinas de teletipo.

Ambicioso – no bom sentido – o projeto de Bruguera pretende não apenas criar um movimento, mas também transformar o Van Abbemuseum em um museu de “arte útil” a partir do dia 7 de Dezembro desse ano. Com essa finalidade, ela principiou uma chamada de trabalhos, terminada em Fevereiro, que resultou numa lista de obras que reinventam o conceito de varejo, se valem da noção de permacultura e promovem a conscientização sobre a questão do aborto. Entre os oito critérios de escolha, o principal é que os trabalhos ofereçam algum tipo de benéfico à comunidade.

Além das exposições, o projeto em Eindhoven entabula um programa de oficinas e debates e uma publicação. Ou seja, Bruguera pretende reinventar o museu, reformulando-o, em suas palavras, numa verdadeira Usina Social. Seria o novo museu, então, um local de convivência, uma escola livre, uma assembléia popular, um ponto de cultura em estilo europeu, uma caixa de câmbio da alma (nas palavras do escritor austríaco Robert Musil)? A pergunta é retórica, pois todas as respostas são corretas. Na verdade, a parceria entre Tania Bruguera e Charles Esche oferece simplesmente uma proposta de como todo museu do século 21 deveria ser: um museu de grandes novidades. Úteis, de preferência.