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Postado em 23/07/2014 - 6:19
Vandalirismo no poder
Guilherme Kujawski

O escracho de Los Vanda incendeia as redes e vai para a rua

Legenda: Los Vânda – Cabral vê se Vaza

Não são incomuns no universo do rock as bandas com integrantes mascarados. Reza a lenda que os músicos da banda de heavy metal Gwar vestem capuzes devido ao aspecto, digamos, repulsivo de seus rostos. Também o Pussy Riot, grupo punk formado por feministas russas, recorre à mesma estratégia, mas de feias as moças não têm nada. O preço que elas pagam pela ofuscação de suas identidades faciais por motivos políticos é caro: duas supostas participantes da banda já foram presas sob a acusação de vandalismo e, recentemente, algumas delas foram barbaramente chicoteadas por cossacos durante uma apresentação de protesto contra os Jogos de Inverno de Sochi. A vida é dura para as meninas do Pussy Riot.

No Brasil, o agitprop de uma nova banda de mascarados está correndo como rastilho de pólvora pelas redes sociais, sendo citada até pelo respeitado jornal Financial Times em uma matéria sobre as jornadas de junho. A provocação é clara, principalmente neste momento em que o governo avalia a possibilidade de transformar em crime passível de prisão o uso de máscaras em manifestações de rua. Eles são Los Vânda, nova banda carioca de escracho elaborado, mas distante do besteirol puro de outros projetos do tipo Mamonas Assassinas. É uma banda de protesto, ponto. Mas com muito humor: as máscaras, alteradas em cada tema, vão de Angry Bird até kufiyas palestinas.

É uma banda de “vandalirismo”, expressão que sugere atos de vandalismo em músicas do repertório pop mundial. Na verdade, o termo poderia ser interpretado como uma variação do pastiche musical, corruptela de músicas já existentes com intenções satíricas. Hilária, para dizer o mínimo, é a vandalização do tema da novela Dancin’ Days, gravado pelas Frenéticas em 1978; a famosa estrofe E leve com vocêee/ Seu sonho mais loouuco/ Eu quero ver seu corpo/ Lindo, leve e solto vira um solerte petardo contra o governador do Rio de Janeiro: Pra votar em você-ê-ê-ê/ Só se eu fosse lou-ou-ou-ou ouco/ Pra você seu porco/ Xilindró é pouco.

Parece que a banda está no auge de sua criatividade, pois basta ver as constantes entradas na página do Facebook. O próximo atentado musical poderia ser uma versão de O Meu Guri, de Chico Buarque; basta trocar a palavra “guri” por “gari” que o resto vem fácil. #ficadica.

*Review publicado originalmente na edição #17