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Postado em 09/02/2012 - 6:03
Vida dos artistas
Documento histórico do Renascimento, mesclado a anedotas e invenções, primeira edição da obra de Giorgio Vasari é lançada no Brasil
Juliana Monachesi

Primeiro crítico de arte da história, Giorgio Vasari (1511-1574) publicou pela primeira vez este seu Vida dos Artistas em 1550. Essa versão, conhecida como a edição “torrentiniana” (publicada pelo editor ducal Lorenzo Torrentino, em Florença), considerada mais artística e mais franca pelos comentadores da obra, ficou eclipsada pela segunda edição, a “giuntina”, de 1568, em que “Vasari acrescentou, integrou, corrigiu e normatizou muito, mas também empanou e banalizou”, segundo o historiador italiano da arte Giovanni Previtali (1934-1988), autor do prefácio.

Indispensável para compreender o Renascimento, a obra de Vasari caiu em desuso pelo caráter engajado ou passional de posições que claramente são endereçadas ora aos artistas, ora aos patronos, ora a um pontífice em particular. Sua história da arte mescla biografia dos artistas a interpretações das obras e muitas fofocas, como as disputas entre Brunelleschi e Donatello, narradas em detalhe e com vivacidade de ficcionista, ou as preferências culinárias de Paolo Uccello, contadas entre uma análise e outra de sua proeza com o escorço e as demais complexas decomposições de perspectiva. Apesar de ser reconhecidamente a edição mais relevante, teve uma única reimpressão na Itália, enquanto a versão de 1568 foi reeditada 18 vezes e traduzida oito vezes em edições estrangeiras.

No Brasil, é a primeira vez que a íntegra da obra de Vasari é publicada, em versão cuidadosamente anotada, que fornece não apenas o contexto histórico opaco – para os leitores de hoje – do Cinquecento, mas também infindáveis e até divertidas correções a afirmações do autor. “O trecho de Plínio foi mal interpretado”, “Vasari exagera” ou “Aqui Vasari tem razão” são comentários constantes nas notas feitas por uma equipe coordenada por Luciano Bellosi, que assina com Aldo Rossi a organização do livro.

Na terceira parte do livro, Vasari, que foi também pintor e arquiteto, dedica-se aos artistas que cultivaram a “bela maneira” e atingiram uma excelência nas proporções, “o reto juízo, de tal modo que, sem que fossem medidas, as figuras tivessem nos diversos tamanhos em que eram feitas uma graça que excedesse a medida”, de Leonardo da Vinci a Michelangelo Buonarroti (1475-1564), único artista vivo que foi admitido na edição de 1550. A ele, amigo pessoal do autor, Vasari dedica uma das mais extensas biografias do livro, e ainda frisa que é Michelangelo, entre todos os 133 retratados nas Vidas, quem iria determinar o futuro da arte. Uma versão traduzida e anotada da Vida de Michelangelo Buonarroti pelo doutor em História da Arte Luiz Marques acaba de sair pela editora Unicamp (808 páginas, R$ 86). Marques se baseia na edição de 1568 da obra de Vasari, que coteja com outras fontes disponíveis do século 16, e com toda a bibliografia posterior, pesquisa que levou 20 anos.

Vida dos Artistas,
Editora WMF Martins Fontes, 2011
856 págs., R$ 125