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Postado em 21/04/2014 - 2:01
Visões críticas
Giselle Beiguelman e Márion Strecker

Artistas passam ao largo das políticas de Estado e propõem reflexões sobre estruturas de poder, relações de força e dinâmicas sociais

Fernando Arias: Como se imagina o mundo perfeito?

Arias

Legenda: Fernando Arias colhe depoimento de soldados do Exército colombiano em Chocó; a imagem faz parte do audiovisual “Cantos de Viagem”, exibido em março na Casa Daros, no Rio (foto: Fernando Arias)

Em dezembro passado, Fernando Arias (Armenia, Colômbia, 1963) saiu de Chocó, próximo ao Pacífico, no noroeste colombiano, em direção ao Rio de Janeiro. O objetivo era recolher histórias, mensagens, vozes, cantos, sons e imagens, a partir da seguinte pergunta: Como se imagina o mundo perfeito? A viagem dá continuidade às ações da Fundação Más Arte Más Acción, criada por ele com o inglês Jonathan Colin. Arias atravessou a Bacia Amazônica, que “une e separa o Brasil e a Colômbia”.

Dias & Riedweg: Engrenagem enferrujada

Dias

Legenda: Sábado à Noite no Parque de Diversões (2011), instalação com vídeos de Dias & Riedweg, usa imagens de um colorido balé de engrenagens enferrujadas em parque de diversões encravado entre favelas no Centro do Rio. (foto: Cortesia Galeria Vermelho)

Como a psique individual influencia e forma o espaço público e vice-versa. Essa é uma das pesquisas da dupla Mauricio Dias (1964, Rio) e Walter Riedweg (1955, Lucerna), que trabalha em conjunto há 20 anos. Policiais da fronteira do México com os EUA, nordestinos que são porteiros em São Paulo e moradores das favelas do Rio estão entre os personagens de seus trabalhos, que frequentemente se realizam na margem da sociedade.

Yinka Shonibare Mbe: Tensão racial e cultural

Yanka

Legenda: Nelson’s Ship in a Bottle, de Yinka Shonibare MBE, que faz referência à Batalha de Trafalgar (1805), em que o almirante Nelson perdeu a vida mas tornou-se um herói. As velas são padrões africanos (foto: Wikimedia Commons)

Ele nasceu em Londres, em 1962, mas foi criado em Lagos, na Nigéria, de onde voltou para estudar arte, primeiro no Byam Shaw College of Art (hoje Central Saint Martin’s College of Art and Design) e, em seguida, no Goldsmiths College. Faz parte da geração conhecida como YBA (Young British Artists). Colonialismo, pós-colonialismo no mundo globalizado, raça e classe social são os assuntos que Shonibare explora em suas pinturas, esculturas, fotografias, filmes e performances. Ele já expôs na Documenta 10, na Bienal de Veneza e em museus e galerias dos Estados Unidos a Hong Kong.

André Komatsu: Desordem e rigor

Komatsu

Legenda: Construção de Valores (2012), de André Komatsu feito com ventiladores industriais e fotocópias de dimensões variadas, exposto no Pinchuck Art Centre, em Kiev, na Ucrânia (foto: Cortesia Pinchuk Art Centre)

A Tate Modern de Londres, a Pinacoteca de São Paulo e o Museu do Bronx, em Nova York, são algumas das instituições que possuem obras do paulistano André Komatsu (1978, São Paulo). Muitos de seus trabalhos são metafóricos e estão impregnados de crítica social e política, de forma mais ou menos explícita. Desordem e rigor convivem em suas criações.

Janez Janza: Quem é Janez Janza?

Janza

Legenda: Pôster do documentário My Name is Janez Jansa (2012), uma das obras relacionadas à vida dos artistas Janez Jansa, Janez Jansa e Janez Jansa (foto: Cortesia dos artistas)

Em 2007, três artistas eslovenos resolveram mudar seus nomes para o do primeiro-ministro daquele país, Janez Jansa, um político de direita reeleito em 2012. Reemitiram documentos, casaram com suas esposas novamente, mas não recomeçaram suas vidas. A manutenção de suas identidades pessoais, a despeito da sua nova existência legal, implica propositalmente a recusa a uma existência performática. Introduz em seu lugar uma questão biopolítica: a transformação de um nome próprio em brand, mas um brand destinado a falhar. Afinal, nada mudou. Apenas tudo.

Julian Oliver: (In)segurança nacional

Oliver

Legenda: Pen drive infectado com o vírus de espionagem internacional Flamer (2013), de Julian Oliver (foto: Cortesia do artista)

Flamer é o nome dado a pessoas violentas e agressivas na internet. É o nome também de um vírus de computador encontrado em 2012 no Irã e em outros países do Oriente Médio. Criado especialmente para espionagem de Estado, essa poderosa arma cibernética foi instalada num pen drive por Julian Oliver (Nova Zelândia, 1974), que desenhou para ele uma capa em forma de arma. Caso o pen drive seja inserido em um computador com sistema operacional Windows, o vírus infectará a máquina, servindo novamente à espionagem. Oliver diz que o pen drive está em “quarentena estritamente monitorada”, em seu estúdio em Berlim.

Graziela Kunsch: Além-plano

Kunsch

Legenda: Conversa do Projeto Mutirão na Escola Pública do Audiovisual, em Fortaleza, em outubro de 2013 (foto: Cortesia da artista)

Mutirão é um projeto da documentarista Graziela Kunsch (São Paulo, 1979) que acompanha ações de movimentos sociais, especialmente os de moradia e o Movimento Passe Livre. Reúne uma série de vídeos, formados por um único plano, como se cada um fosse peça de um processo maior. O foco principal do trabalho são as conversas – os momentos de articulação coletiva das ações/dos vídeos. São muitas horas registradas, que poderiam render um ou mais documentários. Mas ele seria interminável. Como as lutas políticas.

Tania Bruguera: Arte Útil

Bruguera

Legenda: Conversa do Projeto Mutirão na Escola Pública do Audiovisual, em Fortaleza, em outubro de 2013 (foto: Cortesia da artista)

Conhecida por suas performances radicais, como a roleta-russa que protagonizou na Bienal de Veneza, a artista cubana Tania Bruguera (Havana, 1968) vem se dedicando agora ao que chama de Arte Útil. Mais do que um título e um museu online, Arte Útil é uma metodologia. Contempla obras criadas com propósitos artísticos, mas que tem resultados práticos e benéficos para as pessoas. Por esse motivo, explica Bruguera, esse tipo de obra não pode falhar. Tem de funcionar. Exemplo de obra “que funciona” é o mictório do Museu de Arte Útil, que opera uma inversão do princípio do ready-made, de Duchamp. Na obra em questão, em vez de deslocar o objeto comum para o contexto da arte, é a escultura assinada que assume uma função no banheiro masculino.

*Curadoria publicada originalmente na edição #17